Gerência da Paulista - Secretaria de Coordenação das Subprefeituras

Gerente e equipe,da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, exclusivos para cuidar e conservar a principal avenida da América Latina.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Hora do Intervalo - Na garupa da Paulista

Na garupa da Paulista

A Paulista é um cenário. Dependendo do dia e da ocasião, pode ser um cenário de filme futurista, palco de manifestações, espaço para negociações, mas é principalmente um lugar com vida, onde moram, trabalham, se divertem e passam milhões de pessoas.

Uma delas sou eu. Eu trabalho em um dos maiores prédios da Paulista. No décimo sexto andar. Uma beleza de vista. Daqui dá para ver uma boa parte da cidade, através das cortinas, quando dá tempo, claro, afinal, vida de paulista é sempre uma correria.

Daqui dá para ver tudo lá embaixo. As ruas, os prédios, as pessoas, os carros... Aliás, é carro demais!!! O trânsito... Uma das piores coisas da cidade de São Paulo, e como não poderia deixar de ser, da Paulista (da gema) também.

Utilizei a bicicleta como meio de transporte durante anos, andando 20, 30 km por dia. De casa para o trabalho e do trabalho para casa. De vez em quando para um boteco qualquer também.
Sempre fiz isso feliz da vida, por questões de economia de tempo e de grana, e também por convicção ideológica.

Quando vim trabalhar na Paulista, a idéia era manter esse hábito. Mas não foi o que aconteceu. Aliadas a um acidente (que não aconteceu na Paulista, mas me fez parar no Hospital das Clínicas com um ferimento na cabeça), as dificuldades encontradas para continuar utilizando minha bike diariamente foram me desmotivando. Hoje venho trabalhar de ônibus.

A Paulista não é muito gentil com o ciclista, como sabemos (vide acidente no ano passado - http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/01/437827.shtml). Apesar de ser o local escolhido para as manifestações da Bicicletada (http://www.bicicletada.org), tanto a mensal como a anual, conhecida como o Dia Mundial sem Carro na Cidade, a Paulista pode ser uma das vias mais perigosas na cidade para um ciclista. A avenida é lotada e apertada, e as calçadas são tão selvagens quanto. Sobra para o ciclista circular... Circular aonde? Circular nada. Resta ao ciclista não circular. Uma pena, um desperdício, uma injustiça.

Além de todas as questões de política pública que envolvem o fomento à utilização da bicicleta como meio de transporte, a bicicleta cria uma cidade mais humana, onde o contato com o mundo exterior ACONTECE.

Eu até acho que aquela música do Gonzagão poderia também se aplicar ao ciclista:

”Mas o pobre vê nas estrada
O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané
Coisas qui, pra mode vê
O cristão tem que andá a pé”

Texto: Mariana Rillo - designer, formada em Comunicação Social com habilitação em RTV, pela ECA-USP, e pós-graduada em mídias interativas no Senac.

2 comentários:

  1. Que belo relato, pena que a Mariana deixou a bicicleta de lado. Ainda assim, a paulista pode mesmo não ser o trajeto ideal, mas existem as paralelas S. José dos Pinhais e Santos. Que mesmo menos planas, podem ser alternativas.

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  2. Pois é, depois as pessoas não entendem por que tem gente que pedala nas calçadas da Paulista. Não que seja o correto, mas quem circula de bicicleta na calçada é gente que, como a Mariana, têm receio de pedalar na rua. São pessoas que entendem como seu direito usar a bicicleta como meio de transporte, mas só se sentem seguras se escondendo dos carros na calçada. Sim, está errado, está longe do ideal, mas se a via só é receptiva para os carros, é isso que vai acontecer.

    O maior problema é o desrespeito de motoristas que acreditam que a bicicleta atrapalha o trânsito, que o lugar de bicicleta não é na rua e que o ciclista não deveria estar ali - mesmo que o Código de Trânsito, em seu Art. 58, garanta esse direito em todas as vias da cidade. Por isso, campanhas de conscientização ou mesmo pequenas iniciativas de sinalização ajudariam a tornar as ruas da cidade mais seguras.

    Bicicletinhas brancas pintadas no asfalto oficializam o direito que a bicicleta tem de circular naquele espaço, disciplinando os motoristas. Quando ainda havia essa sinalização na segunda faixa da Paulista e as bicicletas circulavam por essa faixa, havia mais respeito dos motoristas e a via era mais segura. Agora as bicicletinhas estão apagadas e há motoristas que ameaçam o ciclista com o carro, querendo que ele saia da rua para dar passagem ao monstro de metal - mesmo que seja para parar depois de 50 metros, no sinal que já está fechado.

    Placas avisando aos motoristas que naquela via há tráfego de bicicletas também legitimam essa presença. Fazem com que o motorista entenda que a bicicleta tem o direito de estar na via, coisa que é difícil de entrar na cabeça de muita gente que acredita que só quem paga IPVA tem esse direito (como se o imposto fosse sobre Propriedade Viária, não do Veículo).

    Na Paulista, há um tráfego intenso de bicicletas: em uma contagem feita pela ONG Transporte Ativo, no início do ano, foram registradas mais de MIL bicicletas em um período de 12 horas na Av. Paulista. Tente fazer essa contagem um dia desses, preferencialmente em horário de pico, contando as bicicletas em ambas as pistas e nas calçadas, e se surpreenderá com o resultado. A sinalização da via visando também as bicicletas deveria ser vista como prioridade das subprefeituras responsáveis por ela. Afinal, o asfalto não é utilizado apenas por carros, motos e ônibus, e o motorista "médio" precisa ser conscientizado disso com urgência.

    Outro motivo para sinalizar a segunda pista da Paulista com bicicletinhas no asfalto, indicando que ela é a pista indicada para o ciclista e que os carros devem respeitar sua presença ali, é que a pista dos ônibus ficaria livre de bicicletas, facilitando também a circulação do transporte coletivo. Afinal, fica complicado para o motorista do ônibus sair da faixa onde está confinado para fazer uma ultrapassagem segura (a 1,5m de distância - art. 201 do CTB). Os carros têm outras duas pistas nessa avenida para poder ultrapassar com segurança um ciclista que nela esteja.

    Complementando as sugestões do João no comentário anterior, uma outra opção para a Mariana seria pedalar até alguma estação de Metrô que tenha bicicletário, como Vila Mariana ou Vila Madalena, deixar a bicicleta protegida ali e embarcar no Metrô para fazer o resto da viagem. A bicicleta não precisa sempre ser utilizada para o trajeto todo, pode ser conjugada com o transporte coletivo. Aliás, é essa uma das funções dos bicicletários nas estações do Metrô.

    Espero poder ver a avenida símbolo da cidade, que tem se tornado um exemplo de acessibilidade, se tornar também um exemplo de inserção segura da bicicleta no fluxo viário. Todos têm a ganhar com isso. Até mesmo quem, ainda assim, preferir continuar usando o carro.

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