Gerência da Paulista - Secretaria de Coordenação das Subprefeituras

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domingo, 24 de maio de 2009

Domingo é dia de história: O bonde Avenida Angélica

Por Rubens Cano de Medeiros, no site São Paulo Minha Cidade

Em 1947, ano em que nasci, a Municipalidade – com a criação da CMTC – trouxe, de Nova York, um bonito tipo de bonde. Diferente dos camarões que aqui já circulavam há anos. Esse novo bonde trafegara na Broadway. E quando alguém dele falava, se referia ao Gilda – seria uma alusão (esquisita!) à beleza de Rita Hayworth, à época estrelando filme com personagem de mesmo nome. Quando eu era moleque, viajei neles em algumas linhas: 19-Perdizes, 28-Pinheiros e 35-Lapa, por exemplo. Muitos devem se lembrar.

Entretanto, esse bonde “moderno”, para mim, era a “cara” da Linha 36-Avenida Angélica. Eu o chamava de o bonde Avenida Angélica. Que eu me recorde, salvo engano, desde que a Linha 36 o adotou, só havia desses carros nessa mesma linha, que eram guardados, à noite, na estação da Alameda Glete.

Aliás, a Linha 36 saía do Centro, rodava, e voltava para o mesmo Centro! Praça João Mendes, Liberdade, Paraíso; contornava a Praça Oswaldo Cruz, Paulista, Angélica até a Praça Marechal Deodoro; São João, Paissandu e Praça do Correio. Volta, vice-versa. Como meu pai trabalhou por 35 anos nas oficinas do Cambuci, da Light, e como nasci e morei próximo à estação da Vila Mariana, desde moleque me afeiçoei aos bondes – como ocorreu amuitos outros paulistanos. Daí, um carro tão bonito e confortável, como o Centex, me impressionar.

O Gilda, comparado aos camarões e aos carros abertos, era moderno. Originariamente, tinha assentos de palhinha trançada, em vez de bancos de madeira, como nos demais; excelente iluminação interna; freio acionado, não a mão, mas pelo pé do motorneiro; limpadores de pára-brisa, que os camarões não tinham; janelas que subiam e desciam travando no percurso: não eram como as dos camarões que, ou abriam, ou fechavam, de vez. Os Centex eram equipados com sistema de calefação – aqui, desativados, eram para o frio nova-iorquino. Enfim, sobressaíam. Eram elegantes.

Folheando jornais da época, via fotografias e textos que ilustravam sua vinda da Broadway: desembarcaram em Santos. Esses bondes ostentavam, bem na frente, uma enorme letra B, pintada na lataria. Era uma alusão à Broadway, onde eles trafegavam antes, como constatei. Eram carros usados, já. Foram tratados pela imprensa paulistana como “velharia”, “sucata”, “engodo à população paulistana”. É certo que careciam de reparos. Mas, reformados pela Light, no Cambuci, prestaram serviço por muitos anos. Briosamente. Até que o sistema de bondes se mostrasse obsoleto para a gigantesca metrópole paulistana.

O nome Centex era porque tinham duas portas de saída. Uma de cada lado, bem no centro do carro, daí, Central Exit, como se vê, saída central. Quantos de nós viajamos neles e nem sabíamos, nem de “Gilda”, nem de “Centex”...

Para mim, Angélica e Paulista – charmosas que sempre foram – traziam à mente de pronto a figura do Centex, que por elas passava.


Eu só tomava os bondes Perdizes, que eram dois: 19-Praça do Correio e 39-Praça Ramos de Azevedo. O trajeto do Centro era feito por uns ônibus pequenos de carroceria cor de prata, das linhas 1 e 2-Avenida. Faziam o mesmo percurso em sentidos contrários. Um deles, no período noturno, sofreu um acidente, ao que me parece na Avenida Angélica e tombou sobre seu lado direito, incendiando-se em seguida. Havia somente uns poucos passageiros, mas todos morreram carbonizados porque não havia porta de emergência do lado esquerdo do veículo. A Linha Circular fazia o giro no Centro indo do Largo do Paissandu à Praça da Sé e vice-versa. Eram ônibus confortáveis, grandes. Eu fazia um curso noturno na Rua São Joaquim das 19 horas às 23 horas. Na saída tomava o bonde Cambuci até a Praça Clóvis Bevilácqua, ia a pé até a Praça da Sé, tomava o Circular e descia no Paissandu onde pegava o bonde 19-Perdizes. Adivinhe, só chegava em casa, na Rua Itapicuru, depois da meia-noite, onde sempre havia um “PF” me esperando dentro do forno, carinhosamente preparado pela dona Didi, hoje com 97 anos.

Expedito Marques Pereira

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